As
duas memórias mais vivas que eu tenho dentro de mim são o nascimento das minhas
meninas, não existe momento que se compare ao nascimento de um filho, aquela
emoção de ouvir o chorinho que mudou minha vida, ou mesmo a mágica de ouvir o
choro delas desaparecer conforme se aproximavam de mim e ouviam minha voz.
Ouso
dizer que mulher nenhuma sabe o que é amor verdadeiro antes de ter um filho,
ali, no momento que nasce nosso filho somos apresentadas ao maior amor do
mundo, que sobrepõe qualquer tipo de barreira e que vai superar qualquer coisa
nessa vida.
É,
elas são o maior amor que eu tenho, hoje não imagino minha vida sem elas,
aliás, não sei como pude viver tanto tempo sem essas meninas, ouvir a voz da
Yasmin me chamando a todo momento, me abraçando pq gosta do meu abraço, me
beijando pq diz que sou cheirosa ... e a Carol, ahh quanta doçura em apenas
5kg, aquela risadinha maravilhosa, aqueles olhos observadores e o suspiro que
ela dá quando beijo seu pescocinho.
São
coisas pequenas assim que transformam meu dia-dia e me fazem enxergar que a
maternidade é isso, é dar valor nessas coisas diárias e pequenas, que fazem a
nossa vida ser mais colorida, é estreitar os laços com muito carinho, e prezar
pelo carinho sempre, pq elas irão crescer e talvez um dia – que eu espero estar
bem distante – não queiram mais o meu abraço, o meu colo, então eu vivo um dia
de cada vez aproveitando o máximo que posso da minha maternidade.
Talvez,
seja por isso que eu fique tão incomodada quando leio em diversos lugares o
parto sendo endeusado ou endiabrado, pq pra mim o parto é um meio pro fim.
Na
gravidez da Yasmin, com toda informação que tive optei pela cesárea.
Não
fui pressionada por médicos, por familiares, amigos, marido, ninguém, eu decidi
pela cesárea sozinha.
Queria
minha filha em meus braços o quanto antes, queria pra ontem, não tive paciência
de esperar, cheguei as 40 semanas e como nem sinal dela querer nascer, marquei
uma cesárea totalmente eletiva e fui conhecer o grande amor da minha vida.
Se
eu me arrependo de ter feito isso?
De
jeito nenhum, se tivesse que voltar no tempo faria tudo igualzinho, foi
perfeito pra mim, estava cercada por todos meus amados, Yasmin foi recebida com
extrema alegria e amor, veio saudável e linda, o que mais eu poderia querer?
Mais
nada, pq minha vida estava completa e eu me sentia plena como mãe.
E
quando eu pensei que não havia mais espaço pro amor em meu coração, recebi a
notícia que estava grávida da Carol.
A
segunda gravidez me trouxe uma calma que eu desconhecia, justamente eu que sou
a ansiedade em forma de gente me vi tranquila e serena como nunca estive antes.
Assim
como na gestação da Yasmin eu procurei ler sobre tudo que poderia ser benéfico pra
Carol, final, existem tantos estudos novos em diversas áreas sobre nascimento,
parto, cuidados com o recém nascido, que eu quis aprender mais.
E
após ler muito e me basear em leituras eu passei a querer um parto natural, não
era aquela coisa “vou morrer se não tiver um parto natural”, mas era algo que
eu queria passar pra ver qual era, se aguentasse a dor iria até o fim, caso
contrário ou se necessário, faria uma cesárea sem problemas.
Embora
eu seja muito saudável, minha saúde tem certas limitações, eu tenho uma hérnia
umbilical gigante que salta e dói se eu faço qualquer tipo de esforço físico, e
ano passado passei por uma cirurgia de grande porte, que demoraria cerca de 18
meses para cicatrizar totalmente, ou seja, o parto natural não era indicado pra
mim.
Mas
eu cismada queria pq queria um parto natural.
Os
benefícios são tão grandes, pq privar minha filha de algo tão benéfico que é um
parto natural?
Mudei
muitas vezes de médico, e salvo engano, com 36 semanas passei pelo último (que
é quem fez meu parto).
Fui
sincera, disse que minha situação era a descrita acima, hérnia umbilical que
doía até ao espirrar (sem exageros), recém operada de uma cirurgia de grande
porte ... e que queria um parto natural pq li por infinitas horas na internet
que o parto natural era o melhor pra minha filha.
Ele
disse que se eu quisesse poderíamos fazer o seguinte, eu entraria em trabalho
de parto e iria imediatamente para o hospital, pq minha hérnia gigante poderia
estrangular e eu tinha que ser monitorada o tempo todo.
Nada
de sorinho acelerador pq eu vinha de uma cesárea anterior, então o trabalho de
parto teria que evoluir sozinho, e o parto evoluiria tranquilamente e ele
estaria comigo, desde que no hospital.
As
semanas se seguiram, e eu estava empolgada com a ideia de um parto natural, mas
não descartei em momento nenhum a cesárea, afinal, vai que fosse necessário.
Não
estava ansiosa, não estava nada, estava normal, eu Julia seguindo minha vida e
aguardando o nascimento da minha caçula!
Com
39 semanas meu médico pediu uma ultrassom pra sabermos a posição que ela
estava, pois com 36 semanas ela estava atravessada na minha barriga.
Quando
levei o resultado meu médico disse que Carol estava com um déficit de
desenvolvimento, estava abaixo do peso e minha barriga de 39 semanas tinha
altura uterina de 32. Alguma coisa poderia estar errada.
Por
precaução, pediu que eu fosse ao hospital fazer exame dia sim dia não pra acompanharmos
como a Carol estava, já que ela se mexia bem pouco e o tamanho estava alterado.
E
assim fui, tanto que passei o dia do meu aniversário (19/05) no hospital sendo
monitorada. Eu fazia cardiotoco, mis um exame que eu não me recordo e ultrassom
pra saber a situação da pequena.
Na
ultrassom desse dia a médica ficou assustada com a quantidade de líquido que eu
não tinha, o liquido estava baixo e a mobilidade da bebê comprometida.
O
médico que me acompanhava aquele dia disse que segundo o cardiotoco eu estava
com contrações leves, ligou para meu médico e passou a situação.
Meu
médico disse que era pra eu ir ao consultório dele no dia seguinte (e não deu
quase 12 horas de diferença entre o exame a consulta com ele).
Já
no dia seguinte na consulta ao ver os exames ele foi bem enfático ao dizer que
ela estava com restrição de crescimento e que a mobilidade dela estava
comprometida devido a baixa de liquido.
Após
essa conversa só deu tempo de levar as malas para o hospital e internar.
Eu
estava feliz, muito feliz em finalmente conhecer minha menininha, mas meu
coração se apertou no centro cirúrgico.
Pensei
comigo “poxa vida, será que estou sendo enganada?” e deitada chorei.
Um
choro solitário, sentido, um choro triste de impotência, pq eu coloquei na
minha cabeça que queria passar por aquilo, afinal, quem não quer dar o melhor
pro filho? Eu queria, enchem tanto a cabeça da gente que o parto natural é isso
e aquilo, que é menos traumático ... poxa vida, minha filha sendo tirada a
força de dentro de mim, que evento mais traumático, me senti uma bosta de mãe.
Eu
deveria estar empoderada, ter o controle do meu corpo, dizer não pra esse
sistema cesarista que todo mundo fala.
E
chorei sozinha.
Não
foi um choro de soluçar, mas lembro que as lágrimas eram amargas.
O
anestesista entrou e me viu quietinha, chorando e me perguntou o que estava
acontecendo.
Tudo
se resumiu em uma palavra: MEDO.
Em
meio as lágrimas contei tudo que se passava na minha cabeça, o pq de estar ali,
a restrição de crescimento, minha agonia.
E
em toda minha gravidez o gesto dele foi o mais humano que alguem fez por mim durante
toda gravidez, ele acariciou meu rosto e disse que eu deveria relaxar, ficar
calma, e que os últimos instantes dela dentro de mim, independente da via de
parto deveriam ser momentos felizes, que aquela tristeza toda não faria bem pra
nós duas, e que o importante era ela vir com saúde.
Após
isso me acalmei, fui anestesiada e minha princesa nasceu.
Sim,
ele tinha razão, o importante seria ela vir com saúde, nada além disso.
E
quando ouvi aquele chorinho gostoso de vida, as lágrimas correram de
felicidade, pq como eu disse lá em cima, o chorinho da vida mudou a minha vida!
Só
quem já esteve em um centro cirúrgico e ao invés de ouvir o chorinho que muda a
vida, saiu de lá com os braços vazios e o coração despedaçado sabe a alegria
que é viver esse momento seja ela por cesárea ou por parto natural.
Momentos
antes dela nascer me lembrei do dia que estive em uma maternidade e saí de lá
com os braços vazios e o coração em frangalhos pq meu sonho não tinha vida.
Me
lembrar disso me deu alegria pra apreciar aquele momento tão especial, pq me
desculpem, mas o triste não é ter um parto frustrado, triste é você entrar
grávida e sair sem seu filho, é ver seu sonho ir embora sem poder fazer nada.
Eu
quase tive a alegria do meu momento roubada, digo quase pq no ultimo minuto do
segundo tempo me lembrei disso e me lembrei que tinha uma joia especial em casa
me esperando, nascida da mesma maneira e que era muito amada, muito desejada,
que é o amor da minha vida.
Minha
alegria quase foi roubada pq agora dizem que só é boa mãe quem sente a dor do
amor verdadeiro, que só é boa mãe quem pari naturalmente, e eu não sei em que
momento eu me deixei levar por isso, mas ser mãe é muito mais que dar a luz,
ser boa mãe é dar exemplo, carinho, ensinar bons valores, cuidar e mostrar o
bom caminho, o parto é apenas o começo de tudo, ser mãe é uma jornada tão
longa, tão solitária, que eu não sei como pude me deixar levar por isso.
Se
eu tiver uma nova gestação, não vou ler nada, não quero saber de nada, quero
fazer meu pré natal normalmente, mas não quero ler sobre benefícios disso ou
daquilo, pq eu não quero sentir o que senti.
“Ah
mas vc caiu em uma desnecessarea”, juro que pra quem me disser uma porcaria
dessas direi que desnecessário é esse tipo de comentário.
Ao
contrário do que possa parecer, sou muito bem resolvida com meus partos, não me
arrependo de não ter tentado ir até o fim, afinal, se ele é medico e estudou
quem sou eu pra achar que naquela situação sei mais que ele me baseando apenas
em estudos do google?
Eu
vejo muita gente dizendo que a cesárea foi banalizada, e que tudo que é
indicação é desnecessarea, mas eu como mãe, jamais colocaria a vida das minhas
filhas em risco por um capricho, por um achismo.
E
eu quase tive meu momento de alegria roubado, mas não, quando me trouxeram
aquela bebezinha minúscula a emoção foi a mesma, o choro emocionado foi o
mesmo, só o amor que não, o amor se multiplicou por 10, por 100, por 1000 em
questão de segundos, pq no fim das contas não me importaria se ela nascesse
pelo buraquinho do meu nariz, o importante era ela estar bem e nos meus braços,
o resto?
Ahh,
o resto é resto e cada um sabe bem onde o sapato lhe aperta!!